Boa noite aos curiosos que começam a dar vida a este cantinho virtual.
Este blog pretende percorrer por diversos assuntos, mas o foco, por enquanto,
volta-se ao cinema (afinal sendo estudante de Cinema, esse espaço me permite
dividir o amor pela sétima arte com todos que também compartilharem deste
sentimento). Para começar, recentemente assisti um filme com a minha irmã
(a qual tem um blog bem interessante chamado "Relicário de Ideias")
chamado A Primeira Noite de Um Homem, lançado nos pródigos anos 60, e possível
responsável pelo destaque de Dustin Hoffman nesse mundinho hollywoodiano tão
concorrido. Como o nome já explica, o filme trata de um jovem recém graduado,
cheio de receios sobre seu futuro, que encontra paz nos anseios de sua
juventude através da sedutora Mrs. Robinson, casada e amiga dos pais do
protagonista, a qual graças à monotonia de seu casamento espelhado no
"american way of life" (puramente composto de aparências
superficiais) busca levar o jovem a momentos infindáveis de prazer
sexual, contato intimo, porem sem qualquer possibilidade de afeto emocional um
pelo outro, afinal tudo é permitido por tras
das máscaras forçadas pela época. Nesse clima de
descobertas, fantasias e anseios, pensei durante todo o filme como Ben,
personagem principal, devia estar se sentindo ao permitir que o maturidade o
atingisse através da rebeldia,
da desobediência (aparentemente pela primeira vez) aos pais, e por
deixar-se levar pela inacreditável Mrs. Robinson, abrindo espaço aos
seus instintos naturais, no lugar da racionalidade que tanto bloqueava-o.
Caso se interessem pelo conto ou pelo filme, não deixem se ouvir a trilha
sonora memorável, de Simon e Garfunkel. Espero que gostem!
O dia luminoso j'a se encaminhava ao entardecer; no entanto, uns poucos
raios de luz ultrapassavam o vidro da janela levemente empoeirada, curiosos com
o rumo desta trajetória. Ele era um rapaz ja bem encorpado para sua
faixa etária, de longe quem o visse poderia arriscar 28, e no
entanto, havia acabado de completar 21. Um jovem rapaz em período de graduação,
com apenas um diploma e incertezas, congratulações que a ele diziam
mais e mais pressão, exaustão, tensão. Ja não havia como fugir das
responsabilidades de um universo profissional, porem havia ela. Usar o
nome próprio seria incorreto, visto que aquela madame mal conhecia o
rapaz. Quero dizer, amigo de familia e claro, mas para a barreira a qual
estariam prestes a romper, dogmas a contrariar, ele não conhecia-a de
forma alguma. Mrs Robinson. O odor que exalava de Mrs. Robinson ja era perfume
de mulher, aquela fragrância sentida em diversas donas de casa, que
buscam um toque de sensualidade `as rotinas tão frias e murchas. E que
corpo possuia aquela mulher, Deus bem sabe que lançou aos mortais a
mais simétrica das criaturas: a coxa fina sempre coberta com a meia
preta de seda, como uma verdade nunca inteiramente revelada, a qual podemos
apenas saber por resenha. Os sinais de idade mal se encorajavam a tocar-lhe o
rosto, quem a visse nunca diria que era amiga dos pais do jovem, e sim que
procurava para si alguém como ele. Não que isso não fosse
realidade, porem claro em outro contexto.
Não estava tranquilo, nem haveria de estar (surpreenderia-me se
estivesse, na verdade, vindo de um rapaz com tamanha sensibilidade). Nos olhos
dela, ele via a culpa, via o marido raivoso, os pais descrentes do ocorrido, os
boatos e mais boatos que tornariam seu ato um verdadeiro crime de primeira
pagina. Estava desajeitado, não tinha certeza se devia faze-lo com a luz acesa
ou apagada, talvez permitisse certa ventilação para o calor não
sufoca-lo em pensamentos temerosos. Arriscou um beijo nos lábios da mulher,
essa mais experiente, o que levou-a a se surpreender com tamanha ingenuidade,
falta de jeito, foi um choque mas de forma alguma desestimulante. Ela havia
interpretado a ansiedade sob outra ótica, que também não seria incorreta ou
inapropriada, mas ainda continha-se a arriscar o palpite. Ele desejava de forma
intensa, mas retinha seus hormônios para si, sua vontade aprisionada,
tentava parecer confiante e seguro, inclusive um marco da masculinidade seria
não estar em pânico antes de sentir uma mulher por inteiro. E era uma
mulher, de fato uma mulher. Era apenas um rapaz, que nada sabia do mundo, que
sonhos tinha a cumprir, mas não fazia ideia de quais seriam estes. Seu futuro
era incerto, o destino oferecia-lhe diversos rumos e o garoto, sempre indireto,
apagado, desconsiderado, que saberia ele sobre a vida ou a carreira. Não tinha
ideia do mundo, mas tinha ideia de Mrs. Robinson, tinha ideia das longas e
finas pernas esticadas em sua direção, prontas para envolve-lo, e tinha
ideia do que queria de imediato.
Melodias tolas vinham-lhe em mente, sucessos da radio da epoca, coisa
boba, mas que no contexto tinha tanta logica. Parecia que aquelas musicas
haviam sido escritas minuciosamente para ele, para ela, e enfim entendeu porque
todos ouviam tanto aos tais hits: esses eram a pena para que fosse escrito o
mais nobre dos romances jamais lido por mais ninguem, senao os próprios autores
das tramas. Nao era possivel que tivesse vivido em maquiagem por tanto tempo,
pois so agora sentia-se nu de suas mascaras, despido
de convenções sociais, e seu corpo tendia a obedece-lo ao invés de seus
pais. Também queria obedecer a ela, Mrs. Robinson. Deus, como ele daria o mundo
aquela mulher se pudesse, ela parecia ser o único possível rumo para sua
perdição. Ela era a linha reta, porem turbulenta, a qual seu veiculo deveria
percorrer para encontrar sentido. A mulher já deitada na cama, lingerie de
estampa felina, aquela musa esbanjava sensualidade para todos que vissem-na
naquele momento; o corpo encaixava-se perfeitamente nos trajes, a silhueta
acompanhava o tecido, dando a ele uma maciez que talvez mulher alguma outra
conseguisse atingir. Ele, desajeitado, perturbado, tantos conflitos a pensar;
ela ali, deitada, com toda sua plenitude de boneca rara e improvavelmente real.
Muito dificilmente real.
Para a cama ele foi, acompanhar sua dama, ou apenas sua parceira sexual.
Seria ele homem, um adulto esclarecido, ou apenas um garoto com medo do escuro,
do inseguro, do futuro incerto e de riscos? A limiar ultrapassada para virar
homem, acredita-se, foi ponderar por longo período os riscos de seus atos, e
optar por conta propria a fazer o impensável (mesmo que não tivesse tamanha
gravidade, ele tomava uma decisão na vida, por conta própria, seu indivíduo
existia e sinalizava vida no momento). Ben tornou-se homem, e como homem seu
corpo tomou lugar sobre o corpo de Mrs. Robinson, e pobre e sem nome Mrs.
Robinson, que recebera-o de braços abertos para aquela que seria sua primeira
noite. Mas não parecia mais a primeira vez, pois o maduro ja havia se instalado
no corpo e na alma daquele ser. Foi habilidoso com muito jeito, soube como
trata-la e leva-la a cobiçar outras noites, varias tantas noites que tiveram
entrelaçados, em completa escuridão, com nem mais os feixes de luz interessados
no que agora já se nomeava um caso, "affair" como queria dizer, mas
para ninguém podia ousar pronunciar tal palavra, nem mesmo a Mrs. Robinson. Ela
não teve em momento algum a intimidade de um nome, apenas seu traje de esposa
bem encaixado na aparência. E naquela noite, aquela primogênita de tantas
outras, foi o inicio da tentação, de ponderações instaladas na mente masculina,
do tesão mais secreto e sagrado de todos. Ainda assim, não houve amor. Não
houve amor na primeira noite de um homem.